terça-feira, 27 de abril de 2010

LINGUAGEM

Desde que nascemos, estamos mergulhados no mundo da linguagem. Ela nos permite estruturar o nosso pensamento e comunicá-lo aos demais, fazendo de nós, seres diferentes dos outros animais.
Platão, no diálogo de Crátilo, elucida o fundamento da significação das palavras, tentando diferenciar a linguagem da realidade, a palavra e a coisa. Ao final do diálogo, Platão constata que os nomes não seriam capazes de dizer a essência das coisas.
No livro X de República, Platão chamou a nossa atenção para um aspecto genérico da linguagem, de que um determinado substantivo ou adjetivo, por exemplo, 'árvore' ou 'agudo', pode ser verdadeiramente aplicado no mesmo sentido a um grande número de coisas distintas e diferentes. "Sempre que um determinado número de indivíduos tem um nome comum supomos que tenham também uma idéia ou forma correspondente" (596). A sua opinião é de que isso só será possível se existir alguma entidade designada pelo termo geral em questão arboridade, agudeza - da qual compartilha cada um dos indivíduos. Caso contrário, seria impossível aplicar o termo geral no mesmo sentido a vários indivíduos diferentes.


Aristóteles

Por se dedicar ao estudo dos seres vivos e de tudo o que a natureza contém, Aristóteles faz observação das coisas que se apresentam aos sentidos, procurando integrar a percepção do mundo sensível ao conhecimento científico e filosófico.
A palavra em Aristóteles é dita símbolo de um estado psíquico, e como este último é uma imagem das coisas reais, a linguagem não tem qualquer relação de semelhança com as coisas, o que equivale a dizer que a relação da linguagem com o ser não é imediata. Ele reconhece que as palavras “não são significantes por elas mesmas, enquanto que os estados de alma são semelhantes às coisas que lhes correspondem” (Aubenque, 1983, p.107). Se as palavras fossem naturais, não haveria diversidade de línguas entre os homens.
Aristóteles faz um estudo desenvolvido dos usos da linguagem em conexão com as regras da lógica que necessita de proposições com estrutura “S é P” capazes de ser verdadeiras e capazes de ser falsas. O verdadeiro e o falso tornam-se possíveis e explicáveis através de operações psíquicas que refletem ou não relações entre coisas reais simbolizadas pela linguagem.


Aristóteles analisa ainda uma outra questão:

“E não será possível que uma mesma coisa seja e não seja [...] como se, ao que nós chamamos “homem”, outros chamem “não-homem”? Porém, a dificuldade não está em saber se é possível que uma mesma coisa seja e não seja simultaneamente homem quanto ao nome, mas na realidade.” (Aristóteles, Metafísica)

Temos aqui a objeção fundada sobre a convencionalidade da língua. A unidade de sentido não se funda sobre os idiomas particulares, pois a estrutura de toda língua particular é contingente, acidental, convencional, mas encontra seu fundamento na regra semântica, que é necessariamente a mesma para todas as línguas. Como os estados psíquicos são os mesmos para todos, pessoas que utilizam diferentes idiomas, ao observarem as mesmas coisas ou pensarem sobre os mesmos temas, serão afetadas psiquicamente de modo idêntico, muito embora utilizem símbolos diferentes, os quais serão diferentes signos que evidenciarão as mesmas afecções psíquicas. (Wolff, 1996 – Adaptado)


Encontramos também Aristóteles, em sua Metafísica, argumentando da seguinte maneira:
"E assim, poder-se-ia até levantar a questão de saber se as palavras caminhar , ter saúde , sentar , implicam que cada uma dessas coisas seja existente, e do mesmo modo em outros casos deste gênero; pois nenhuma delas subsiste por si própria nem é capaz de manter-se separada da substância mas, antes, se realmente é alguma coisa, é aquilo que anda, ou se senta ou é saudável que é uma coisa existente. Ora, tais palavras são tidas na conta de mais reais porque existe algo definido que lhes é subjacente (isto é, a substância, ou indivíduo), que está implícito nesse predicado; pois nunca usamos a palavra "bom" ou "sentado" sem subentender isso". ( Livro Zeta, capítulo 1. )
Neste caso, Aristóteles parte do fato de que nunca usamos verbos a não ser em conexão com sujeitos, de que não dizemos "Senta", "Caminha" etc., mas, antes, "Ele está sentado" ou "Ela caminha". Deste fato conclui que as substâncias, as "coisas", têm uma espécie independente de existência que as ações não têm, que as substâncias são ontologicamente mais fundamentais do que as ações.
Para Aristóteles, a linguagem é instrumento do pensamento e tem como função representar as coisas. As coisas passam a existir, diz Aristóteles, à medida que a nomeamos. De acordo com Aristóteles, a linguagem é natural na sua função e convencional na sua origem. Ou melhor, a linguagem está presente na natureza humana no seu aspecto funcional de representar as coisas para instrumentalizar o pensamento; e no aspecto de sua origem, ela é convencional. A partir da necessidade intrínseca funcional da linguagem é que o homem inventa a mesma num contexto sócio-cultural.


Escrito por Priscila Magna de Souza.




Referências Bibliográficas:

ARISTÓTELES. De Interpretatione. (Tricot). Paris: Vrin, 1959.
Abraão Siqueira, Bernadette. História da Filosofia: Os pensadores.
Platão, Crátilo. Instituto Piaget, 2001.

CASSIRER, Ernst. Antropologia filosófica. Tradução: Vicente Felix de Queirós. 2ª ed. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

Nenhum comentário:

Postar um comentário